quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Cultura do abacaxi: origens, etimologia da palavra e características gerais



Abacaxi: história, etimologia da palavra e características gerais da planta

Dentre os diferentes gêneros que enfeixam a tribo das bromélias, da família das bromeliáceas, afora aquelas epífitas rivais das orquidáceas, que emprestam um quê de característico à paisagem nacional, – há um gênero terrestre por excelência, - o Ananás, - do qual, a espécie Ananás sativa, Shult, - o Abacaxi, - (Bromélia sativa, variedade pyramidalis, Arruda Câmara)-, deve ser digna, por todos os motivos, do melhor dos acolhimentos por parte dos nossos agricultores. Piso e Marcgraf incorporaram à ciência a preciosa planta do ananás. Thunberg criou o gênero “ananassa” onde foram incluídas varias plantas da família das Bromeliáceas (BARBOSA, 1932, p. 9).


As Bromeliáceas são exclusivamente americanas e, com especialidade, brasileiras. Dentre elas, o gênero Ananás, - (circunstância interessante,) – manteve nas sistemáticas de Linneu, - (Bromélia ananas, L.), de Schultes, - (Ananas sativa, Schult.) e de Lindley, - (Ananassa sativa, Ld) – a designação indígena.
É que através dos relatos históricos de Alph. de Candole, - “Origine des Plantes Cultivées” -; J. M. Caminhoá, - “Elementos de Botânica”-; Theod. Peckolt, - “História das Plantas Alimentares e de Gozo” -, e outras obras de literatura botânica, conclui-se que o Ananás era desconhecido nos continentes europeu, asiático e africano, antes da descoberta da América.

De outra parte, segundo notícias a que fazem referências os mesmos autores acima citados, o Ananás, – com o nome indígena de NANÁ, - somente foi levado à Europa, e as cortes européias, no início do século XVI, pelos primeiros descobridores da América. De NANÁ, substantivo no grau aumentativo, o aroma grande o que sempre cheira. Há quem dê a palavra Ananás originária de “nanassa”, nome pelo qual são conhecidos a planta e o fruto do Ananás, nas Guianas e Antilhas. Jean de Lery foi um dos primeiros quem deu à Europa notícias do Ananás (BARBOSA, 1932, p. 9).


Na Europa, pelo seu estranho aspecto, aroma, sabor etc. – o NANÁ, – e, posteriormente Ananás, - foi muito bem recebido e aceito, tendo os europeus procurado desde logo cultivá-lo, quando não possível ao ar livre, sob estufas, cultura levada a efeito pelos nobres a título de deliciosa curiosidade. Na França, Cláudio Abeville, referindo-se ao Ananás, disse jamais ter visto nada que se aproximasse da sua bondade e beleza (Ibidem).
Daí, originário da América, ter sido o ananás classificado com a designação do indígena americano e, com essa designação, pelo fato de se ter tornado, imediatamente, muito apreciado pelas suas condições extrínsecas e intrínsecas, o Ananás passar-se, em seguida, da Europa, - e especialmente da América, - para as terras da Ásia e da África por onde propagou-se, fazendo-se assim conhecido, comumente, com aquele nome indígena, por todas as regiões terrestres.
No território que hoje compreende o Estado de São Paulo, o Ananás deveria ter existido desde os primeiros tempos. Originário da América, e segundo alguns autores, das regiões atualmente abrangidas pelo Estado do Maranhão e Piauí, o ananás, através das tribos indígenas, deveria ter sido disseminado por todas as terras de Santa Cruz.
Possivelmente os nossos índios tendo a atenção voltada para o aspecto e perfume do abacaxi selvagem, conheceram-lhe desde logo o sabor. Uma vez o fruto conhecido, imediatamente, os índios dele começaram a fazer uso, e não só ao natural como, de certo, em bebidas fermentadas muito dos seus costumes, preceitos religiosos e de recepção. Daí passarem, provavelmente, a colher o ananás, quer das vegetações espontâneas ou silvestres, quer de pequenas culturas por eles, talvez, levadas a efeito.

A cultura do abacaxi no contexto regional

O abacaxi é considerado o mais importante dentre os denominados frutos exóticos que vêm se expandindo no mercado. É uma planta originária de regiões de clima quente e seco, com chuvas irregulares. Gosta de boa insolação, alta temperatura e resiste mais à seca do que à umidade.
No cenário agrícola mundial de frutas, a cultura do abacaxi tem uma elevada demanda e alta rentabilidade. A principal variedade cultivada no mundo tem sido o Smooth, Cayenne, por causa de suas características agroindustriais, considerando que 67% da produção mundial é consumida de forma industrializada (SANTANA,1996, p. 11).
O Brasil foi o terceiro maior produtor mundial de abacaxi em 1994, contribuindo com 8%, de sua oferta embora a participação brasileira no mercado internacional seja pouco significativa e o país alcance apenas a posição de décimo exportador mundial. As perspectivas para o Brasil são de elevar essa participação, mal grado a necessidade de melhorar a qualidade do produto para adquirir maior competitividade.
No Brasil as principais regiões produtoras, desenvolveram o plantio com tecnologia avançada. Dentre estas destacam-se São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Pernambuco e Bahia, sendo que no ranking dos produtores nacionais a Paraíba ocupa a primeira colocação com 37% da produção nacional, seguida de Minas Gerais e Bahia, cujas contribuições são respectivamente de 26% e 7% (SANTANA, 1996, p. 11).
A abacaxicultura reveste-se de inegável importância para a economia brasileira pela possibilidade de expansão do cultivo na região de cerrado, a ampliação da sua indústria e o incremento na exportação.
Em 1990, o Brasil exportou 1% de sua produção o que representou 7.900 toneladas, possibilitando para o país uma receita de 3,1 milhões de dólares. Nesse mesmo período o Brasil ocupava a posição de décimo lugar no ranking entre países exportadores, contribuindo com 1,6% para as exportações mundiais. Em 1992 a exportação brasileira se eleva para 16.000 toneladas garantindo ao país um rendimento de 5,3 milhões de dólares.
No período de 1990/94, o Nordeste do Brasil contribuiu com uma produção média de 646.673 toneladas cuja produtividade circundou as 37 t/ha, superando aquela obtida para o Brasil nesse mesmo período. A participação nordestina foi portanto 52% da nacional (IBGE,1989-1994 apud SANTANA, 1996, p.11).
Estado da Bahia apresenta condições ecológicas excelentes para a produção do abacaxi. Na década de 90, registra-se uma expansão da área colhida com a cultura. Em 1994 a Bahia já ocupava 3.291 ha com abacaxi o que lhe permitiu uma produção de 107.239 toneladas. O rendimento médio do produto na Bahia foi de 32.585 kg/ha próximo ao obtido no Brasil, no mesmo período de 33.518 kg/ha (Ibidem).
No Vale do Submédio São Francisco, as expectativas para o desenvolvimento do abacaxizeiro são as melhores possíveis em virtude da sua fácil adaptabilidade às condições semi-áridas, devido às suas características morfológicas, anatômicas e fisiológicas.
Explorado em sua grande maioria por pequenos e médios proprietários, o abacaxi é um produto de alta rentabilidade econômica, porém exigente em tratos culturais o que encarece o custo de produção. Para diminuir os riscos da exploração da cultura os agricultores adotam o cultivo consorciado, especialmente com culturas alimentares de ciclo curto. Isto aumenta a renda do produtor e melhora o seu regime alimentar (SANTANA, 1996, p. 15).
As variedades mais cultivadas no Brasil são a Pérola e Smooth Cayenne. Alguns problemas culturais vêm afetando o desenvolvimento da atividade, dentre os quais a fasciação, deformação que pode atingir o pedúnculo, o fruto e a coroa do abacaxi. Fatores genéticos e nutricionais e condições ambientais favorecem essa deformação. Foi realizado um levantamento em algumas variedades para verificar a ocorrência da fasciação e se destacou que a suscetibilidade da Smooth Cayenne é quase cinco vezes superior à da Pérola.
Outra conclusão é quanto às variedades menos comerciais como Pérola e Primavera que são resistentes à fusariose e apresentam percentuais menores de fasciação (Ibidem).
Outros problemas como escassez de mudas de boa qualidade, principalmente por causa da fusariose que tem provocado elevadas perdas à abacaxicultura no país, manejo inadequado do fruto na colheita e pós-colheita e pequeno aproveitamento industrial são limitações que influenciam diretamente no baixo rendimento da atividade e na qualidade do fruto produzido.


A cultura do abacaxi no município de Pombos - PE


Apesar de o sistema agrícola do abacaxi no município de Pombos se caracterizar como uma pequena produção agrícola, ele se apresenta como importante fonte de renda para o seu produtor local e, dentro de um cenário global, esta produção pode alcançar maior importância econômica isto, obviamente, de acordo com um maior interesse e assistência em termos de investimento por parte dos governos das esferas municipal, estadual e federal, assim como de investimentos privados.
O cultivo do abacaxi, no município de Pombos, corresponde a uma produção expressiva no que diz respeito às atividades agrícolas praticadas em seu território, apesar dessa cultura se caracterizar por ser baseada na pequena produção sendo, dessa forma, o segundo produto mais cultivado por área colhida/ha e quantidade produzida dentre as culturas temporárias do município, ficando atrás apenas da cana-de-açúcar. (IBGE, 2001).
O abacaxi é cultivado em área expressiva, em municípios que possuem trechos de solos silicosos, como Pombos, seguido por Carpina e Palmares, sendo vendido no mercado regional e da região metropolitana do Recife [sic]. Sua cultura sofre a concorrência da produção de municípios do agreste pernambucano e dos estados vizinhos, sobretudo da Paraíba (ANDRADE; ANDRADE, 2001, apud: BRASILEIRO, 2006, p. 68).
Entretanto, a cultura do abacaxi aí trabalhada caracteriza-se também por ser de cunho tradicional, uma vez que são utilizados modos de produção sem nenhum aparato tecnológico, utilizando-se mesmo instrumentos de trabalho tradicionais como a foiçe e a enxada, mas ao mesmo tempo ocorre ao lado de algumas culturas de subsistência. Pois em alguns sítios onde se dá o cultivo do abacaxi percebe-se cultivos em pequenos lotes consorciados com culturas como a de feijão, milho ou mandioca, ou mesmo macaxeira, voltados estes produtos exclusivamente para o abastecimento familiar.
Uma outra peculiaridade do cultivo do abacaxi em Pombos, é que este não está provido de nenhum programa ou projeto de apoio e assistência técnica, ficando a mercê apenas de tratos culturais e cuidados tradicionais do pequeno produtor que o cultiva, o qual, geralmente não possui conhecimentos adequados para produzir uma fruta de maior qualidade e, consequentemente, adquirir maior competitividade no mercado regional, além do uso indiscriminado de agrotóxicos e outros produtos químicos sobre a planta para atender a expectativas de um mercado consumidor regional e suas exigências.